Entre Niterói e o Rio existe uma ponte. Entre a ponte e o centro das cidades, existem vias de acesso. Entre meu destino e a origem, existe o engarrafamento.
Para qualquer lado que se olhe, existem carros e mais carros, vidros fechados, ar condicionado e rádio ligados, pessoas isoladas e solitárias.
Pela janela do carro, vejo um casal brigando, um homem fumando, uma senhora displicente ao celular... todos estão morrendo aos poucos, todos gastando suas vidas com pequenas e contínuas doses de veneno diário. Seja o veneno do rancor, da nicotina ou das futilidades que irradiam e emanam sobre nós.
Em cada pessoa que passa, vemos um tom de cinza pálido, um olhar perdido ao tempo. Os meninos vendem biscoito e atrapalham o trânsito. Os meninos jogam água e sabão nos vidros e trapalham o trânsito. Os meninos lançam bolinhas de tênis e cospem fogo, sem jamais deixar de atrapalhar o trânsito.
E eu, não atrapalho o trânsito?!
Eu atrapalho o trânsito quando saio num carro vazio, quando demoro para avançar no sinal verde e passo direto no vermelho, quando troco de pista constantemente, quando esqueço que existe seta e fecho o cruzamento. Eu atrapalho o trânsito quando paro pra comprar biscoito, coca-cola e pipoca, quando compro bala, chiclete ou raspadinha em ambulantes. Atrapalho, também, quando sigo ambulâncias que têm preferência, e quando jogo minha lata de cerveja pela janela, quando dou a preferência se ela é minha e quando abuso da cortesia irracional que fere às leis supremas.
Mas se eu atraplho o trânsito, quem me atrapalha, enfim?!
O trânsito me atrapalha, as pessoas ao redor me atrapalham, os motoristas, pedestres e afins, todos atrapalham a todos, pois já nescemos atrapalhados, e no fim de tudo, acho que prefiro andar de ônibus, sentada e com ar condicionado, certamente. É entrar, sentar e dormir, sem ver o trânsito atrapalhado, sem ver quem está atrás, na frente ou ao meu lado, continuam pessoas isoladas e solitárias, porém com menos carros entre elas.
Algumas pessoas ainda atrapalham, quem fala ao berros no celular em pleno ambiente de dormir, deveria merecer 100 chibatadas. Mas se a poltrona é confortável e a temperatura agrada, que venha o engarrafamento!
falando
Escrito por uma menina que lê até bula de remédio e escreve até em papel higiênico.
Editado por um menino que pensa muito e faz pouco, mas quando faz, não espere menos que a perfeição.
Editado por um menino que pensa muito e faz pouco, mas quando faz, não espere menos que a perfeição.